domingo, 18 de julho de 2010

A Cartomante


A CARTOMANTE
A casa era espaçosa com uma decoração até de bom gosto, com móveis de madeira pesada que dissipava a idéia de charlatanismo. Afinal, se ela tem boa condição por que precisaria enganar as pessoas para levar a vida? Ou será que faria? Ou será que deveria ir embora?
- Vem por aqui minha filha.
Mãe Sebastiana Clara a encaminhou para uma sala anexa a sala de estar... Tinha uma grande mesa de madeira de lei. Ela sentou-se e convidou Joana Dara a fazer o mesmo.
- Sente aí, minha filha, que a conversa pode ser longa ou as cartas podem se trancar e não te dizer nadica. Ta tudo nas mãos da sua sorte.
Joana Dara puxou a cadeira receosa. Ficou observando ela desembrulhar as cartas do baralho do pano branco.
- A moça descruze os braços e pernas e livre os pensamentos, as energias tem que fluírem para não trancar os caminhos. A moça tem medo de que?
- De barata? - Joana Dara respondeu de pronto, sem pensar.
- A moça tem medo dos seus medos. De enfrentar a vida. Nem quer pensar nos problemas, sendo assim nem resolvê-los.
- Olha mãe Sebastiana Clara, na verdade, vou ser sincera. Não quero saber se eu vou fazer uma viagem. Não quero saber da minha família ou se a Dilma vai ser presidenta. Quero saber ...
- Do moço moreno.
Joana Dara pasmou por uns segundos antes de ter qualquer outra reação. Só depois de um estalo recobrou a fala.
- Sim! Do meu moreno!
- Por que a moça quer saber do moreno? Se o moreno não quer saber de você...
- Como assim, a senhora ta vendo isso?
- Isso nem precisa ver. Porque minha filha, se está aqui é porque está insegura, se está insegura é porque ele não te dá a atenção que precisa... Logo...
- Com todo respeito mãe Sebastiana, não to pagando pra ser lógica, quero saber o que as cartas dizem.
Mãe Sebastiana Clara nem se abalou com o comentário. Calmamente embaralhou as cartas, com um gesto indicou a ela que cortasse. Depois de feito, posicionou o baralho sobre a mesa. E lentamente foi virando as cartas.
- Caminhos vagarosos. Falas maldosas. Pessoa triste.
- Ave Maria , por Cristo!
- Se a moça achar melhor pode ir rezar na igreja e chamar os santos pra te ajudarem. Mas se quiser saber o que as cartas te reservam tem que liberar as energias e abrir os caminhos para que elas te digam seu presente, passado e futuro. Posso continuar?
- Continue, mas com coisa boa.
- Não vou mentir pra moça. Porque a verdade das cartas é uma só e tenho que respeitar. O moço moreno tem outra moça. Moça bonita por demais cheia de formosura.
- Não acredito que eu to pagando para ouvir isso.
- A moça se quiser pode ir pagar na locadora e alugar um romance. Porque a vida real que ta na carta é bem outra.
- Olha, não quero mais saber de nada. Não deve ser nada disso, essas cartas devem estar enganadas, vou embora.
- Se a moça quer escutar só as coisas que pensa querer ouvir fala com o espelho. E agora me dá licença que o feijão ta no fogo.
- Passar bem.
- A moça também vá em paz, vá com Deus. Mas olha, com o moreno não vai não.
O rosto de Joana Dara vermelhou de imediato e ela saiu batendo os pés reclamando sozinha a má idéia de ter ido à tal cartomante...
Li de Oliveira

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